Notícia no DN de ontem

Família do bairro dos Lóios vai processar Fundação D. Pedro IV

ANA MAFALDA INÁCIO

Miguel luta pela vida aos 36 anos. A queda do quarto andar, de uma altura de quase 30 metros, na caixa do elevador do prédio onde mora, deixou-o em coma e com múltiplas fracturas no organismo. Os médicos do Hospital São José não avançam com prognósticos e a família vai processar a entidade que gere o edifício, a Fundação D. Pedro IV. O acidente é visto como uma tragédia anunciada porque os alertas foram muitos. Por isso, o sentimento é de revolta no lote 232, dza Rua Norte Júnior, no bairro dos Lóios, em Chelas. Há mesmo quem defenda: “Que ninguém pague mais a renda.”

Miguel é um homem ainda jovem, mas conheceu a condição de reformado por invalidez já há alguns anos. “Uma doença do foro neurológico e psiquiátrico deixou-o assim”, conta o irmão Nuno. “Não tem tido sorte na vida. Quase nunca sai de casa e logo tinha que lhe acontecer isto”, sublinha. Aos 36 anos, Miguel é o único filho que a mãe, Maria Adriana, ainda alberga em casa, num quinto andar que comprou com dificuldade há uns tempos. “A minha mãe mora aqui há mais de 24 anos e está em estado de choque. Quem esperava uma coisa destas?”, questiona Nuno.

No prédio, não se fala de outra coisa, mas ninguém sabe ao certo como aconteceu. “O meu irmão esteve mais de duas horas sem ninguém dar por ele. Se o elevador tivesse começado a andar ficava esmagado lá em baixo”, comenta. “A queda foi de tal forma que ele partiu os vidros da caixa do elevador que dão para o lado de fora do prédio”, acrescenta.

Miguel saiu de casa por volta das 16.00 de segunda-feira e carregou no botão do elevador que ainda funciona no prédio e serve as mais de 500 pessoas que moram nos 103 apartamentos espalhados por 12 andares. Mas o equipamento não funcionou.

O elevador estava preso entre o quinto e o quarto andar, parecendo que parado neste último. Miguel desceu um lance de escadas, abriu a porta, mas, afinal, o elevador não estava lá. Miguel Santos caiu de uma altura de 30 metros e esteve mais de duas horas sem assistência. “Ninguém deu por nada. Só quando as pessoas começaram a chegar, por volta das 18.00, é que perceberam que o elevador não funcionava e começaram a ouvir gemidos”, refere o vizinho Jorge. “Dei com ele lá em baixo caído. Chamava baixinho pela mãe. Coitado, é tão bom moço”, afirma.

O INEM transportou Miguel para o Hospital de São José. A OTIS, empresa que faz a manutenção do equipamento, foi ao prédio após o acidente e desligou o elevador. “Agora, não há nada para ninguém. O problema são os idosos, as pessoas doentes, que diariamente têm que sair para fazer tratamentos, as que têm bebés. Não sabemos quanto tempo isto vai estar assim. Já viu o que é subir até ao 12º andar?”, diz Luísa Manuela, moradora no quinto.

O lote 232 tem dois elevadores, um “não funciona há mais de seis anos e já foi selado pela câmara. Só restava este, que era arranjado com as peças dos outro. A OTIS passa cá a vida, não sabemos o que faz, pois os problemas não param”, critica. “O engenheiro que cá veio na segunda-feira disse nunca ter visto uma porta de elevador abrir sem a caixa estar lá. Isso acontece aqui permanentemente”, garante António Lemos, delegado do prédio na comissão do bairro.

Ontem, em Chelas, o estado de Miguel estava na ordem do dia. Esta é a terceira queda de um morador na caixa do elevador. “As anteriores não tiveram as mesmas consequências. Um senhor caiu do rés-do-chão, outro do primeiro andar, mas safaram-se”, contam-nos. O 232 é até conhecido no bairro como o “prédio-bomba” ou inacabado. “Há aqui mais de 500 botijas de gás. Se um dia há azar, vai tudo pelos ares”, dizem os moradores. As queixas são muitas: a electricidade que falha dia sim, dia não; o lixo que se acumula; os ratos que invadem os corredores e a humidade que dá conta das casas. |

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